30 setembro 2007

Frustração

Seu tempo acabou!
não dá mais pra brincar.
A vida te mostra
o que você não quer enxergar.

O ponteiro gira
como um furacão.
Passa por cima de todos
sem pedir perdão.

As coisas vão mudando
sem você perceber
e se parar pra olhar pra trás
você pode se fuder.

Aquilo que você busca
talvez nunca seja encontrado
e você se tornará
mais um ser humano frustrado.

27 setembro 2007

Sentido Ausente

Ultimamente coisas estranhas estão acontecendo comigo. Algumas não muito boas. E sempre que possível eu coloco a culpa no cosmos. Realmente dá vontade de rir quando listo as mais curiosas e mais "ilusitadas" situações que tenho vivido nos últimos dias. E, desta vez, literalmente fiquei cego por 4 dias. Foi de repente. Perdi a visão, e o mundo escureceu-se.

No primeiro dia foi aquele impacto. Esbarrava em tudo tentando caminhar pela casa. Olhos ardendo. Vontade de gritar. "Estou perdendo minha prova de Finanças", "culpa daquela vizinha que jogou 'creolina' no bêco p'ra 'detetizar' o caminho". Sou alérgico, alérgico a qualquer produto que contenha ácido sulfídrico.

Qualquer fiapo de luz me ofuscava. As frestas de luzes que saíam da porta fechada me atormentavam. Até o visor do celular me levou aos gritos de dor na manhã do segundo dia quando fui ver que horas eram. Desesperado, esperando as vistas melhorarem pelo menos um pouco, me preparava para ligar p'ra minha médica. Até que de repente, a magia aconteceu.

Percebi algo diferente comigo. Deixei a televisão sem brilho e, sem perceber, eu "assisti" a um filme inteiro apenas ouvindo os sons e os diálogos. Levei apenas alguns minutos para decorar todos os botões do meu controle-remoto, algo que não tinha feito até recentemente.

Eu conseguia identificar todos os objetos que minha mãe manuseava na cozinha, apenas ouvindo o barulho. Comecei a sentir como nunca o cheiro da comida sendo preparada. Eu podia adivinhar cada ingrediente do almoço apenas pelo olfato. O paladar, apurado como nunca, me fez finalmente saborear a refeição que me é servida há anos, mas não "enxergava" os detalhes contidos no prato.

E, a noite, estava afim de ouvir algumas músicas minhas, entre elas algumas clássicas. Aumentei o volume do meu "ampli" já esperando algo diferente. E foi o que aconteceu. Conseguia perceber com clareza cada nota, cada acorde, cada bemol, cada detalhe da melodia. Passei a gostar até mesmo daquela música que não "via" graça nenhuma. As ondas sonoras pairavam pela casa escura.

Já nos últimos dias, tinha o mapa da minha casa inteira na mente. Sabia ir da cozinha ao banheiro em segundos. Lógico, que tropecei numa cadeira no meio da sala. Com a canela doendo, pensei "mudaram de lugar durante a noite".

No último dia comecei a sentir saudades. Saudades das cores. Parecia que tudo fazia sentido com elas. E isso não dava p'reu imaginar com olhos fechados. É realmente difícil imaginar o azul, amarelo, verde, vermelho etc. A cor é o elemento principal dos sentidos. Até que, enfim, elas retornaram como nunca na manhã do quinto dia. E fui dando adeus ao preto.

Caminhando pela rua, com um sorriso idiota no rosto, diante de muito barulho, fumaça dos ônibus, gritaria, notícias sensacionais nos jornais, buzinas, sirenes... comecei a fazer parte novamente deste mundo cinza. O sorriso se desfez, meus olhos se fecharam... tentando não acreditar no que eu estava vendo... tentando acordar desse mundo sombrio.

24 setembro 2007

Vidas e Vidas - O Deleite da Solidão Voluntária

Não considerem isso uma lição de vida nem façam da vida da nossa amiga Camile uma base. Leiam com atenção e a intenção do texto será extraída.

Ela estava apenas deitada. Acordou ainda um pouco bêbada e não conseguia pensar tão rápido. Olhou à parede e viu uma aranha; pensou na aranha e em toda a sua vida. Achou que houvesse passado uns 40 minutos mas não mais que 5 havia passado. Como quem não quer nada, ela vasculhou a geladeira em busca de alguma coisa que nem ela sabia o que era.
-Todos fazem isso... por que eu não posso fazer?
Realmente, abrir a geladeira e olhar só pelo hábito é algo que todos fazem. Ela não se culpou por não ter nada afinal ela morava sozinha e o dinheiro não cobria regalias. Olhou para o telefone como que uma predição:
-Esse telefone tem um vermelho engraçado.
E começou a rir sozinha antes que o telefone tocasse. Para sua irônica surpresa, era seu namorado a implorar por algo que ela não queria ceder. Reatamento.
-Duvido que você me ame tanto quanto diz. Nos vemos qualquer dia!
E desligou o telefone sem pensar duas vezes. Voltou ao seu mundo solitário e quieto. Tudo que ela não tinha há algum tempo. Não se chateava, pelo contrário, gozava cada instante como se único. Como se toda a sua vida ela estivesse estado naquela magia azul. Ligou a televisão e começou a ver qualquer coisa. Era só para o tempo passar. Pensou, pensou e pensou mais um pouquinho antes de escolher para onde sairia naquela noite. Decidiu ir à festa do seu amigo mesmo sabendo que seu ex-namorado estaria lá a espreitá-la. Ignorou a condição e partiu depois de se trajar perfeitamente para a ocasião. Festa de gala e classe, ela sentia como se não estivesse lá. Ninguém ali lhe era conhecido e isso facilitou muito sua noite. Entristeceu-se ao descobrir que a única bebida alcólica servida na festa era champagne. Como de praxe, ignorou também isso e bebeu como uma louca. Sem pensar nem lembrar de nada, acordou para mais um dia com um pouco de dor de cabeça mas feliz e infeliz ao mesmo tempo depois de olhar para a cama e ver seu ex-namorado. Como não lembrasse de nada, não terminou de o expulsar a pontapés sem antes lhe fazer uma pergunta um tanto quanto incoveniente para o momento:
-Tem seda aí?

21 setembro 2007

Dia de muito, véspera de nada

Muitas coisas nesse mundo nos deixam tristes. O amor deveria nos deixar felizes mas, como tudo nessa vida, é temporário. Felicidade é temporária, tanto quanto a tristeza. A vida é temporária mas não a morte. Filosofia não é nem de longe explorada nesse conto simples, direto e objetivo. Depressivo na sua maior parte mas cômico por ser apenas um conto.
Apesar de grande e cansativo, esse conto reflete bem a insensibilidade humana em relação às pessoas que gostam da gente.
Quem duvida?

*** ELE E ELA ***
Era uma época parecida com essa: véspera de olimpíadas, tempo chuvoso e frio, morto; havia a dúvida e não mais o cinismo. Ela não o queria. Por que continuava então? Por que não dava fim logo àquela dor que corroía aos poucos seu estômago a cada nota que ele soltava em sua gaita desafinada. Ele nunca teve aulas de gaita e, como todo mundo que pega em uma gaita, achava que tocava maravilhosamente bem. Isso a irritava profundamente mas, o que não mais a irritava? Cada suspiro que ele dava em tempos de calor era motivo para que ela se irritasse; se estivesse frio então...

*** ELE ***
Ele mudou muito seu conceito sobre mulheres nesse mundo, só não entendia o porquê de ela não sujar logo as mãos com seu golpe de misericórdia. Se dependesse dele, aguentaria essa via-crucis pelo resto da vida. Ele já se sentia só ao ver televisão e ouvir rádio, logo, não tinha mais saída. Pensava nisso o tempo todo e nunca soube como explicar a ela. Pensou um pouco e resolveu espairecer. Saiu sozinho como era de se esperar e se pôs a deliberar. Desligou o celular simbólicamente - ela não o ligava mais mesmo, ainda mais para celular; muito caro! - e um mundo de amargura veio à sua cabeça. Não achou explicação plausível para o que estava acontecendo. Sofria muito por dentro, sem que ela notasse. Chorava sozinho, resmungava sozinho, se zangava sozinho, praguejava sozinho; tudo era sozinho agora. Sua vida não tinha outro valor senão com ela e ao notar que não a mais tinha, quis arrumar algum meio de ela sofrer um pouco. Não encontrou forma melhor que não o suicídio. Engraçado para quem lê como parece coisa normal o suicídio na vida desse jovem mas sua dor era deveras grande. Sempre pensamos que nada é tão grande a ponto de uma pessoa tirar sua própria vida. No máximo, tirar a vida do próximo mas ainda assim é coisa extrema, inaceitável, impenssável. Ele tinha um coração puro e só havia amado uma pessoa nessa vida. Não estava pronto - segundo sua própria concepção - para a vida sem sua amada ao seu lado. Nesse instante, passou um pouco mal graças a algumas cervejas e, depois dos vômitos, estava com a cabeça mais no lugar. Resolveu ir à praia, apesar do frio e apesar da chuva. Sentou-se na areia de calça jeans e camisa pólo como se não houvesse chuva alguma. O mundo estava fechado a ele e sua teia de pensamentos confusos que, pouco a pouco, entravam em sério conflito. Acendeu um cigarro, deu dois tragos e zuniu seu vício:
-De hoje em diante, nunca mais fumo um cigarro!
Andou lentamente em direção ao mar. Suas lágrimas se confundiam com a chuva e seu pensamento agora era bem alto:
-"Eu só queria ouvir um 'eu te amo'. Isso é tão difícil assim, Deus"?
Teve medo do arrependimento e resolveu correr ao infinito. Ao inexplorado e desconhecido. Ao mundo novo onde, segundo sua mãe fortemente católica, ele não mais sofreria. Exitou e chorou muito antes de ser engolido pelo mar.


*** ELA ***
Ela?! Ela deu por sua falta no dia seguinte. Achou que nada passava de uma vingança e que ele a ligaria no dia seguinte. Dois, três dias se passaram antes de ela tomar alguma atitude. Foi à casa dele e não o encontrou. Ligou para seus pais que não sabiam do seu paradeiro. Perguntou a amigos, do trabalho, na faculdade. Nada. Sua feição continha um "q" de emoção. Talvez preocupação, talvez desespero, talvez...
-Essa casa não é a mesma assim... vazia. Provavelmente, viajou para Petrópolis. Já entendi tudo! Meu aniversário é semana que vem e ele deve ficar por lá tentando me magoar. Meu Deus, espero que sim!
Pegou o telefone e procurou a agenda na bolsa. Catou algo na letra "C".
-Cláudio? Vai fazer o que hoje?

20 setembro 2007

Gênesis

Bom... aqui estou. É com grande satisfação que faço parte da equipe do Segredo Social. E como em toda estréia, há sempre expectativas para o futuro. Vai ser bem interessante ler textos escritos por três pessoas totalmente diferentes, de lugares diferentes, de infâncias diferentes, de idéias e valores diferentes, mas, pelo menos, com um blog em comum.

Ainda nessa expectativa, não sei exatamente que tipo de escritor serei. Mas tentarei ser menos melancólico, angustiante e menos abstrato que nos outros blogs que faço parte. Acho que o SS abre porta p'ra meter bronca em muita coisa que precisa ser dita. Então, estamos aê!

No mais, desejo vida longa ao SS. Que os amantes de blogs voltem a crescer no Brasil, depois dessa pós febre Fotologuiana e Orkutinense.

Agora, finalmente, posts assinados por Luck.

Um pensamento...

A água cai forte, respinga gelada, parece infinita... Cachoeira! Lembranças de momentos passados juntos e prestes a terminar. Queria que soubesse como me sinto sem elas... roupas, máscaras, fantasias... que deturpam, escondem e falsificam o real. Pois quanto mais delas, menos de nós e mais um padrão.
Neste mundo, vasto e falso mundo, não há espaço para erros ou humanidade. Somos fantoches condicionados a julgamentos irracionais e sem voz de reclame.
Mesmo assim, não desisto. Por você eu deixo de ser covarde e, despida, volto a ser criança, sem medo de amar.

18 setembro 2007

Melhores amizades serão sempre eternas...

Há tempos eu estava querendo voltar a postar em um blog. Consegui salvar boa parte dos textos antigos que eu havia postado em outro blog e vou estar postando alguns dos meus preferidos aqui. Também entrarei com textos mais recentes que estiveram guardados nos meus cadernos. Espero agradar a quem visita.
Estarei contando histórias de alguns amigos meus (fictícios e reais) que se destacaram na minha mente de alguma forma.
Às vezes entrarão também alguns poemas, sonetos, textos sem nexo e coisas do gênero. Claro que não abusarei desse formato. Não quero perder leitores! =)


O tempo não é tão generoso com todo mundo. Eu lembro bem que eu vivia matando aula pra jogar ping-pong, futebol e bola de gude enquanto o André não. Ele era o típico cdf e eu adorava colar dele. Era um cara maneiro apesar de a turma inteira fazer chacota dele. Eu até lembro de uma vez em que ele se revoltou e falou umas duas dúzias de palavrões para um metido a forte da nossa sala. Ele foi apoiado pela turma inteira e o grandão não teve peito para enfrentar todo mundo ao mesmo tempo. Conclusão: acho que aquele dia foi um dos mais felizes na vida do André. Ainda mais agora. Vi alguém, um ambulante, entrando no ônibus com uma caixa nas mãos. Ignorei pois eu nunca compro nada mesmo. Ele vendia balas e eu, que estava olhado fixamente pela janela, fiquei pasmo quando ouvi a frase:
-Bala, Eden?
Na meia volta que a minha cabeça fez entre a janela e a face do sujeito, me passaram várias coisas à cabeça. Várias possibilidades. Mas qual seria a verdadeira? Eu sabia que descobriria assim que colasse a cara no sujeito. Era ele mesmo. O André. Com uma muleta, roupas muito esfarrapadas e uma perna ausente, ele insistia que eu comprasse balas. Falei que compraria se ele trocasse duas palavras comigo. Ele não hesitou e sentou ao meu lado com a maior educação que eu já vi em um ônibus. Começou a contar dos fatos inusitados que o levaram àquela situação. Contou que perdeu a perna em um acidente de ônibus e não pôde trabalhar desde então. Sua mãe morreu alguns minutos depois do seu pai. Este por queda de cabeça e aquela por infarto fulminante. Não aguentou ver 22 anos de casamento indo embora laje a baixo. Ele ficou unicamente com a irmã mais nova e foi morar com a avó que vendeu a casa deles para ajudar nas despesas. Nada disso foi suficiente e ele acabou tendo que virar ambulante depois do acidente que o tirou a perna. Sua cultura da época do colegial ainda era notável na fala e percebia-se que ele possuía o hábito da leitura. Terminadas as reverências, fui convidado a cumprir com a minha parte na promessa e comprar um pacote de balas. Já não fiz tanto caso e acabei comprando uma daquelas de chiclete. Guardei a carteira no bolso e me despedi do meu infeliz amigo. Ele requisitou um derradeiro abraço antes de partir e eu o atendi. Abraço formal e negligente da minha parte.
Acabei sem a carteira e com um pacote de balas fora do prazo de validade.