29 dezembro 2007

Teoria da Lasagna

Quando você chegou, minha vida estava completa. Meus dias estavam preenchidos e eu sabia exatamente o que esperava da vida. Minhas paixões duravam uma noite e terminavam pela manhã. Várias vezes falei que amava sem realmente amar.
Mas um dia você entrou na minha vida. Tomou de assalto minhas horas livres e eu fui deixando. Me aproximei mais das sutilezas e virei meu mundo de cabeça pra baixo. Me acostumei com o andar de mãos dadas, com os programas a dois, com o vinho peruano no quiosque da lagoa, com os passeios matinais pela orla, com a admiração mútua pela Lua, com as ligações desesperadas em momentos depressivos e pelas ligações depressivas nos momentos desesperados.
Um dia desses, você se foi. Resolvemos que seria melhor cada um seguir seu caminho. Você, eu não sei o que fez, mas eu, involuntariamente, continuei dizendo que amava sem amar, andando de mãos dadas com outras, continuei fazendo programas a dois, bebendo vinho peruano na lagoa e acabei descobrindo os vinhos chilenos. Passei a caminhar ainda mais pela orla, ligo pra vários amigos e amigas quando estou depressivo e desesperado e admiro cada dia mais o luar, sozinho ou acompanhado, o luar é sempre o mesmo.
Por vezes me perguntei por que me entreguei tanto àquele amor. Não cheguei a nenhuma conclusão. Mas depois de muito sofrer, sorrir e conhecer pessoas, coisas e ocasiões novas, notei que não te amava tanto assim. Era realmente apaixonado pelo estilo de vida que adquiri após te conhecer.
Concluí depois de um tempo que, metaforicamente, a mente pode achar que a lasagna nunca vai ser a mesma se a carne moída com molho de tomate for extinta, mas isso é só até experimentarmos o quatro queijos...

25 dezembro 2007

Uniforme

Para tudo há uma denominação. Uma descrição. Uma lógica que tenta definir as coisas. No restaurante, através do figurino das pessoas, podemos identificar os garçons, os seguranças, os clientes e o chofer. Numa igreja católica fácil identificar os padres, as freiras, os fiéis.

Mas o figurino existente nas pessoas é o figurino da alma. Aquele que descreve, que descrimina, que rotula. Por que as pessoas insistem em criar barreiras e divisões antropológicas? Já não basta a pluralização natural do meio? Já existem as verdades absolutas que servem como base existencial das coisas. O resto é filosófico. O resto é conceito.

Criam camadas. Torcidas. Grupos. Tribos. Estilos. Ritos. Mitos. Símbolos. Crenças. Religiões. Ideologias. Bandeiras. Muralhas. Políticas. Armas. Covas. Drogas. E tudo para quê? Para alimentar a fome dos miseráveis que insistem em vestir o avental da hipocrisia e assar nas diversas cozinhas do inferno existentes no mundo a carne da intolerância.

Propósito do post? Nenhuma... é livre interpretação. Aqui você encontra isso!

03 dezembro 2007

A varinha de condão

Há algum tempo atrás, existia uma pequena cidade no sudeste do Brasil. Tudo ia as mil maravilhas com a cidade! Não havia doenças, não havia tristeza e todos viviam em perfeita harmonia tanto com a natureza quanto consigo mesmos.
Exatamente no dia do aniversário de 100 anos dessa cidade, apareceu um mágico trajando roupas liláses com estrelas brancas típicas de um mágo. Além da roupa, ele possuia também uma vara de condão com uma estrela na extremidade e dizia que essa estrela era mágica e o fato de ela estar na ponta de uma varinha feita da mais pura madeira vinda da Europa Ocidental a tornava mágica e a dava o poder de realizar um desejo por dia. Foi criado todo um alvoroço com a novidade que só aumentou depois que o mágico disse dar de presente a varinha para a cidade. A primeira discussão era a de quem possuiria a varinha e onde ela seria guardada. Mesmo depois de muito desentendimento e contradições mútuas, foi decidido que a varinha ficaria com o homem mais sábio da cidade e na casa do mesmo. A discursão se prolongou pois muitos reinvidicaram o posto de "homem mais sábio da cidade"; até que o provável real sábio - homem mais velho e mais exaltado ao cargo pelos que não o almejavam - teve uma sábia idéia: "faremos um desejo a varinha para que ela vá direto à casa daquele que é mais sabio dentre nós". Depois de pouco contestada a idéia e ratificada, foi executada a mesma pela mulher mais velha dentre todos:
- Varinha de condão cedida a nós pelo senhor mago, pedimos que vá direto à casa daquele que mais te merece, ou seja, àquele que, dentre todos aqui presente, é o mais sábio, honesto e bondoso.
Pouco se demorou para a varinha de condão - que foi levada à praça pública para ser feito o pedido - desaparecesse por completo como que em um passe de mágica. Todos foram correndo para suas casas na esperança de encontrar a varinha sobre a mesa, a cama ou a cômoda. Os que não a encontravam voltavam correndo à praça para descobrir quem foi o condecorado. Também não demorou muito para que a cidade inteira estivesse no meio da praça em uma busca sem resultados a quem teria sido atribuído o valor da varinha. Nada foi encontrado. Nem mesmo um simples vestígio do paradeiro daquele objeto. Todos convergiam de onde ela poderia estar; muitos diziam que ela deveria estar escondida na casa de alguém e a discursão varou a noite.
Quando já se passava da meia-noite, o mágico (que assistiu tudo quieto e de braços cruzados) resolveu retornar para casa já que ninguém encontrava a tão bendita vara. Ao entrar em casa, subiu ao quarto e pegou uma varinha de condão com uma estrela na extremidade feita da mais pura madeira da Europa Ocidental e desejou que na sua televisão passassem cenas da cidade onde ele esteve naquele momento. Rindo de si mesmo e do que via, ele ainda proferiu essas últimas palavras antes de dormir:
- Foi plantada a discórdia.

Moral da História: Retire a moral das histórias que você lê.

Profundo, não?