31 outubro 2007

Dom Miguel

Gostaria de aproveitar o post para anunciar que mais três amigos meus irão postar aqui no Segredo Social! A Lili (vulgarmente conhecida como "Pêlo na churréia"), o Bruno (Pinguim) e a Carol (Zô). Sejam bem-vindos! Tenho certeza que eles ajudarão a manter o nível do blog e certamente estaremos no Jô Soares em breve! =)

-Assim como assim, ficou pensando o velho, não há de ser enrolado e guardado que o hei de vender; vou mandá-lo encaixilhar; põe-se-lhe aqui umas tabuinhas velhas...
D. Miguel voltou para ele os olhos turvos de tristeza e reproche; assim lhe pareceu ao vidraceiro, mas podia ter sido ilusão. Em todo caso, pareceu também que os olhos tornavam ao seu lugar, fitando à direito, ao longe... Para onde? Para onde há justiça eterna, cuidou naturalmente o dono. Como estivesse a comptemplá-lo, à porta, parou um homem, entrou, e olhou com interesse para o retrato. O logista reparou na expressão; podia ser algum miguelista, mas também podia ser um colecionador...
-Quanto pede o senhor por isso?
-Isto? Há de perdoar; quer saber quanto peço pelo meu rico senhor D. Miguel? Não peço muito, está um tanto encardido, mas ainda se lhe aprecia bem a figura. Que soberba que ela é! Não é caro; dou-lhe pelo custo; se estivesse encaixilhado, valeria uns quatro mil reais. Leve-o por três.
O freguês tirou tranqüilamente o dinheiro do bolso, enquanto o velho enrolava o retrato, e, trocando um por outro, despediram-se corteses e satisfeitos; o lojista, depois de ir até à porta, tornou à cadeira do costume. Tavez pensasse no mal a que escapara, se vendesse o retrato por dez reais. Em todo caso, ficou a olhar para fora, para longe, para onde há justiça eterna... Três mil reais!

COPIADO e a adaptado de um texto de Machado de Assis.

26 outubro 2007

No início tudo era vida.
E um dia veio ele, inimaginável.
Roubou de mim o que eu pensava
e devolveu-me em palavras.

E então, tudo era amor.

O mundo girou, o tempo passou.
Declarações, abraços,
beijos e carícias quentes...
Brigas, carência, ciúmes...

E então, tudo era tristeza.

Uma gota de lágrima
quebra todo o encanto.
Percebo que não posso mais salvar.

E então, tudo era dor.

O fim não trouxe a separação.
Mas o amor deu lugar a tristeza,
que também partiu.
Trazendo a dor,
que com o tempo passou
e esqueceu de chamar a vida,
que se perdeu.

E então, tudo era nada.

* Baseada em qualquer coisa que eu li a muito tempo, mas não lembro onde.

25 outubro 2007

O amor é psicológico?

Um pouco de argumentação.

Essa é uma pergunta muito feita por quem tem dúvidas (que óbvio) quanto à integridade de certas atitudes que tomamos quando estamos no ápice da adoração humana. Um misto de loucura e paixão que nos faz cometer atos insanos e sem medir as suas consequências. Nos deixa com cara de idiota e nos faz focar o pensamento unicamente em uma pessoa do sexo oposto (na maioria das vezes). Essa é a descrição do tão bem conhecido mas tão mal conhecido Amor. Muitos dizem que o amor é só uma troca involuntária de fluidos e líquidos orgânicos mas muitos ainda o tem como um sentimento nobre e que pode levar o portador ao cume (sem trocadilhos) ou à decadência.
Tomemos nota então da opinião daquele carinha lá. O "esse que vos posta":
O que seria o amor pra mim?
O amor não passa de um conjunto de satisfações que pode ser recíproco ou não.
Está bem, Eden; agora explique-se!
Cada um tem em mente uma pessoa ideal. Nessa pessoa ideal constam a aparência física, mentalidade, atitude, etc. Ao longo da jornada da vida, conhecemos várias e várias pessoas de diferentes ideais, mentalidade, aparência e tudo mais. Uma pessoa que você conheça e que chegue mais perto da pessoa ideal que você tem em mente causa logo um impacto que não é o amor e sim uma outra sensação bem conhecida nesse mundo: a atração sexual.
Ótimo; então o que é mais importante: o sexo ou o amor?
Os dois pois, sem um, o outro não existe.
Se o objeto do seu fascínio devolve isso a você mutuamente e se ele está extremamente perto da pessoa ideal que você tem em mente e vice-versa, vocês se considerarão almas-gêmeas quando, na verdade, não passa de uma simples, extrema e intensa atração recíproca.

O pensamento é bem maior que esse. Não vou mastigá-lo aqui pra entregar. Pensem em como isso já fez ou está fazendo parte de sua vida. Esse assunto, provavelmente, gerará muita discórdia mas é uma coisa que nunca saiu da minha cabeça. O amor é um sentimento lindo mas, visto de uma visão mais pessimista (ou realista), toma uma face um pouco mais mórbida.
Tendo noção do quanto isso pode te prejudicar (e se você teme isso), você poderá começar a tentar controlar esse sentimento doentio e haverá uma hora em que você se julgará amado mas não conseguirá retribuir isso na mesma intensidade. É uma faca de dois gumes onde você se privará de um sentimento. Você não sofrerá mas também não ganhará o pote de ouro que o amor proporciona por um tempo: o tempo em que ele é mútuo, prazeiroso e lindo; não mede consequências.

18 outubro 2007

O Professor

“É a nossa primeira aula juntos, primavera de 1976. Entro na ampla sala de Morrie e noto a aparentemente incontável quantidade de livros que cobrem a parede, estantes e estantes de livros de sociologia, filosofia, religião, psicologia. No piso de madeira, um grande tapete, e uma janela que dá para a estradinha do campus. Só uns dez ou doze estudantes estão lá, consultando cadernos e programas. A maioria usa jeans, botinas e camisa de flanela com pregas. Penso comigo que não vai ser fácil matar aula numa turma tão pequena. Talvez não devesse ter me inscrito.
- Mitchell? – diz Morrie lendo a lista de presença.
Levanto a mão.
- Prefere Mitch? Ou acha melhor Mitchell?
Nenhum professor me perguntara isso. Dou uma olhada rápida no cara, suéter gola rulê, calça de cotelê verde, o cabelo prateado caindo na testa. Ele sorri.
- Mitch. É assim que meus amigos me tratam – respondo.
- Pois então será Mitch – diz Morrie, como fechando um negócio. – E... Mitch?
- Senhor?
- Espero que um dia você pense em mim como amigo.”

Retirado do livro A Última Grande Lição: O sentido da vida (Tuesdays with Morrie), de Mitch Albom, p.28, 1998. Editora Sextante.

15 outubro 2007

Linhas Soltas

Mulher acorda
Mulher entra no banho
Mulher se enjoa e vomita
Homem se preocupa
Homem compra teste de gravidez
Mulher faz o teste
Teste dá positivo
Casal fica feliz
Homem vai ao trabalho
Homem divulga a notícia
Empresa festeja
Homem tira o dia de folga
Homem volta pra casa
Homem vai à casa da amante
Homem dá a notícia à amante
Casal de adúlteros discute
Amante se surpreende
Amante expulsa homem
Amante conta que também está grávida do marido
Casal de adúlteros decide não mais se ver
Casal de adúlteros se despede sem ressentimentos
Homem convida os amigos para festejar num bar
Homem passa na floricultura e compra flores
Homem vai pra casa
Homem beija a mulher
Nove meses se passam
Bebê nasce
Casal vive feliz para sempre com bebê

Linhas soltas que fiz para um post feliz que nunca escreverei.

11 outubro 2007

Procurando...

Sons altos e disconexos
invadem friamente seus ouvidos.
Aquilo que queres dizer
nunca será entendido.

A procura incessante de um significado
não acabará com palavras
e, mesmo que seus olhos digam,
eles não me dizem nada.

Amanhã talvez entendas
o que hoje te parece um mistério.
A utopia será substituída
por uma solene decepção.

Mesmo que isso tudo, um dia, acabe
haverá sempre uma outra vida
com novos labirintos indecifráveis
e novos pontos de partida.

08 outubro 2007

Pecados Capitais

Estou botando esse post mais descontraído para dar uma variada. Os textos -pelo menos os meus- estavam meio pesados demais. Não é essa a idéia do blog.
Aproveito a deixa para fazer uma alusão à fase Matrix que estamos vivendo hoje em dia.

Não. Nada a ver Matrix com a história. Mas vamos ao post.



Ira
- Que tal um cinema?
- Detesto cinema!
- E uma volta pelo shopping?
- Odeio shopping!
- E se eu te levar pra conhecer meus sobrinhos?
- Tenho ódio de crianças!
- O que nós podemos fazer então?
- Detesto indecisão!
- Do que você gosta então??
- Detesto quem me faz muitas perguntas!
- O que eu posso fazer então?
- Me detestar no mesmo nível! Assim nós vamos logo pra cama!
- O que?
- Odeio você!


Soberba
- Mas o que é isso?!
- Isso quer dizer que eu te amo!
- Tá bom mas peixe não é bem meu prato favorito.


Luxúria
O padre falou que tínhamos que ficar um mês sem transar. Um mês depois, voltamos à igreja:
- E aí meus filhos. Resistiram a um mês sem sexo?
- Bom, a primeira semana foi horrível, mas nós resistimos. Na segunda semana a coisa estava preta, mas estávamos aguentando... Até que a minha esposa foi pegar uma lata de milho no alto da prateleira e deixou cair. Quando ela se abaixou para pegar, não resisti. Fui dominado pela luxúria e a agarrei ali mesmo, e fizemos amor loucamente...
O padre respondeu:
- Bom filhos, vocês sabem que isso faz com que vocês não sejam bem-vindos em nossa igreja.
- Tudo bem, padre. Nós também não somos mais bem-vindos no Carrefour...


Inveja
- Eu queria ser um x-men.


Gula
- Ontem eu estava com tanta fome que acabei comendo dezenove hamburgueres!
- Ué?! Dezenove? E por que você não comeu vinte logo?
- Tá doido? Se eu comesse vinte certamente iria passar mal.


Avareza
- Mãe, por que nós não nos mudamos pra Ipanema? Tem uns prédios tão pertinho da praia. Odeio ter que subir e descer o morro todo dia pra ir e voltar da escola.


Preguiça
-

05 outubro 2007

O Perigo da Censura Livre

Recentemente assisti um comercial de televisão em que mostrava um vendedor de brinquedos anunciando uma bola de futebol infantil. O vendedor não conseguia fazer a propaganda porque a todo momento ele se questionava se podia ou não falar sobre o assunto. O comercial fazia parte da nova campanha publicitária contra a censura aos veículos de propaganda e marketing com a máxima "Todo o tipo de censura é burrice".

Também a pouco tempo, inúmeros artistas e produtores de cinema e teatro fizeram campanhas fortíssimas contra a nova lei que determina recomendações por faixas etárias das obras criadas por esse ramo. Várias vezes vi Jô Soares, um dos repercussores da campanha de oposição, afirmando categoricamente o absurdo da nova lei e o perigo que esse novo regime trás ao país, podendo levar a um retrocesso aos anos de ditadura.

Fiquei pensando e argumentando por algum tempo sobre o assunto. O termo "liberdade de expressão" parece banalizado. Há tempos lutamos por liberdade, igualdade, livre arbítrio e por cultura. Hoje vejo segmentos poderosos da sociedade tomando conta dos benefícios conquistados por heróis do passado.

É conveniente! Perceba como somos ordenados com mensagens do tipo "compre", "vista", "beba", "coma", "transe", "assista", "use", "ouça", "leia", etc. Hoje aprendemos a ser consumistas, viciados em comprar, em beber, em comer, em transar, em assistir, em ouvir, em usar e ler. E nos frustramos, porque percebemos que o que consumimos não era o que queríamos comprar, vestir, beber, comer, transar, assistir, ouvir, usar e ler. E estamos aprendendo a ser enganados.

A melhor máxima pr'essa forma de hipocrisia seria: "Todo tipo de censura é burrice, assim como toda propaganda é enganosa"

03 outubro 2007

História de Macacos

Havia, em algum lugar desse mundo, um grupo de cientistas que resolveu fazer uma pesquisa com macacos. Eles puseram três dentro de uma gaiola com dois andares: no primeiro andar havia um cocho onde eles punham uma ração vitaminada que macacos não gostam muito; já no segundo andar, havia sempre um cacho gigante de banana prata. Os macacos, obviamente, adoravam as bananas mas havia um porém: quando um deles ia ao segundo andar pegar as bananas, os cientistas lançavam um jato d'água nos outros dois macacos que ficavam no andar de baixo. Essa cena foi se repetindo por várias e várias vezes até que os macacos deduziram que tomariam o banho sempre que algum outro macaco fosse pegar alguma banana. Depois disso, eles resolveram tomar uma atitude: sempre que algum macaco se atrevia a subir ao segundo andar pra pegar bananas, os outros dois o surravam e não o permitiam fazê-lo. Depois de um tempo, isso ficou tão comum que eles nem ameaçavam mais subir ao segundo andar e se contentavam só com a ração.

Um mês depois, os cientistas tiraram um dos três macacos e puseram outro. Esse macaco foi direto ao segundo andar pegar bananas e foi surpreendido de cara com uma baita surra dos outros dois. Ele ainda tentou outras vezes mas sempre se deparava com a surra. Logo ele desistiu da idéia e se contentou também com a ração.

Duas semanas depois, os cientistas tiraram outro dos dois macacos da primeira leva e trocaram-no por outro macaco novo que repetiu a atitude do primeiro macaco trocado: pegar bananas. Esse, como não podia deixar de ser, também tomou uma baita surra dos outros dois. Uma semana depois, os cientistas trocaram também o último macaco da primeira leva e as mesmas cenas se repetiram.

Havia agora três macacos "novos" e, se alguém pudesse os perguntar o por que de eles não irem pegar as bananas ou por que eles batiam em quem tentava realizar tal ato, não saberiam responder pois quem começou o ato foram os macacos da "primeira geração".

Ainda bem que não somos macacos.